quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Homenagem Póstuma - Mestre Verequete


Um homem simples, de chapéu na cabeça e voz firme se transformava em rei quando estava em meio a tambores, numa roda de carimbó. Esse era Augusto Gomes Rodrigues, o Mestre Verequete, ícone da cultura paraense que completou 90 anos e recebeu uma homenagem inédita com o Verequete: Rei dos Tambores, projeto que realizou show para o Mestre no centro histórico de Belém no dia Municipal do Carimbó, e lançou uma coleção inédita sobre a obra do cantor e compositor no majestoso Theatro da Paz. O projeto foi uma realização da Associação Amazônica de Difusão Cultural, Social e Ambiental, que inaugurou a terceira etapa do projeto Cultura Pará, da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD).

A festa foi uma resposta à contribuição do Mestre à música local, com a valorização do carimbó, ritmo que reúne heranças indígenas, africanas e dos colonizadores da Amazônia. Foi Mestre Verequete um dos primeiros divulgadores do carimbó nos subúrbios da capital Belém, na nova fase da Música Popular Paraense, e quem despertou o interesse dos meios de comunicação de massa para o ritmo.

O lançamento da coleção Verequete: o Rei dos Tambores, que popularizou ainda mais a obra do compositor, também foi marcada por um grande show com Mestre Verequete e músicos convidados. A coletânea é composta por uma caixa com o CD “Verequete é o Rei”, o DVD com o filme “Chama Verequete” e o livro “Som dos Tambores”.

“O carimbó não morreu,está de volta outra vez,o carimbó nunca morre,quem canta o carimbó sou eu.”

Os versos ritmados dão a medida da importância do Mestre Verequete para a cultura brasileira. Augusto Gomes Rodrigues morreu ontem, por volta do meio-dia, vítima de insuficiência respiratória aguda e infecção generalizada, no Hospital Universitário João de Barros Barreto, em Belém, onde estava internado desde o último domingo, dia 1º. Segundo o boletim médico divulgado pelo hospital, Verequete tinha pneumonia aguda e respirava com a ajuda de aparelhos. Nas próximas reportagens você vai acompanhar a repercussão da morte de Verequete, saber mais sobre sua obra e as homenagens que lhe serão prestadas.

Homenageado até pelo presidente Lula como Comendador da Ordem do Mérito Cultural, uma das mais importantes honrarias do governo federal, Mestre Verequete chegou aos 93 anos convivendo diariamente com a pobreza. A exemplo do que acontece como muitos ícones da cultura popular, o nosso Rei dos Tambores não teve em vida o reconhecimento que merecia. Por muitos anos Verequete sobreviveu vendendo churrasquinho numa barraca em frente à vila onde morava, na periferia da cidade.

Em 2006, durante uma das raras entrevistas que concedeu nos últimos anos, Mestre Verequete era só queixas. Quando perguntado sobre os vários projetos já realizados no Pará em sua homenagem, ele desabafou: “‘Faço tudo por todos que vêm aqui, conto o que tenho que contar, mas depois não vejo nada. Nem uma foto bonita na parede eu tenho”.

Já nessa época, a memória não ajudava muito. Verequete dizia que tinha 105 anos e reclamava da saúde “caída”. Fraco e debilitado, preso a uma cadeira de rodas após sofrer vários derrames, ele estava morando num barraco de madeira com dois compartimentos, onde todo o mobiliário se resumia a um colchão jogado no chão, gavetas empilhadas num canto, uma cômoda com uma televisão velha e um aparelho de CD. Lá dentro, um forte odor de urina denunciava o descaso. Foi lá que Verequete viveu por um tempo, enquanto sua casa na mesma vila era reformada com o dinheiro ganho através de um projeto.

Mesmo com a idade avançada e o frágil estado de saúde, Verequete vez por outra saía de casa para receber alguma homenagem. Nessas ocasiões, ele se animava tanto que chegava a levantar da cadeira de rodas. “Quanto mais gente e mais aplauso, melhor pra mim”, dizia ele.

Ontem, a maior expressão do carimbó tradicional, o popular “pau-e-corda”, calou-se para sempre. Sua obra permanecerá, assim como a estranha sensação de que não sabemos dar valor ao que nos é mais caro.

Para acalmar o mestre, música era o melhor remédioSegundo a família de Mestre Verequete, ele já vinha enfrentando problemas de saúde há vários anos. “Ele teve um enfisema pulmonar que o deixou muito debilitado. Ultimamente, todos os meses tinha consulta no Hospital Barros Barreto e tomava remédios”, contou a filha caçula, Lucimar Rodrigues, logo após o boletim oficial confirmando a morte de Verequete.

O próprio tratamento médico por vezes gerava problemas. “Receitaram um medicamento para ele dormir, mas ele ficou muito agitado, não reconhecia mais ninguém e queria ir para Icoaraci”, contou Josenilda Pinheiro da Silva, a dona Cenira, companheira do mestre por mais de três décadas. “Aí suspenderam o remédio e ele melhorou. Mas vivia brigando e falando sozinho”.

Para tranquilizá-lo, só tinha um jeito: Cenira colocava para tocar um CD com as músicas dele. Era assim que Verequete se acalmava.

Verequete tinha quatro filhos do primeiro casamento e um deles, Augusto Carlos, 42, mora na mesma vila que o pai morava, no bairro do Jurunas, e integra o lendário grupo O Uirapuru, que acompanhou Verequete desde o início da carreira. Os outros três vivem em Icoaraci.

Extraído e adaptado de:

Fonte: